Matéria
atualizada em 29 de abril de 2024.
Estive na Estação em: maio de 2012 e em março de 2023.
E. F.
Cataguazes (1895-1903)
E. F.
Leopoldina (1903-1967)
APRESENTAÇÃO:
Na última atualização desta matéria em março de 2022, contei com valiosa contribuição do amigo Milton Miranda, de Miraí. Graças a ele foi possível apresentar belíssimas fotos, antigas e inéditas, onde realizei um gratificante trabalho de restauração fotográfica.
Mas era preciso retornar a Miraí, não só para fazer
novas fotos, mas também para conhecer pessoalmente o grande amigo e colaborador
Milton Miranda, momento este que aconteceu no dia 24 de março de 2023.
Então vamos à atualização de mais uma
matéria!
Acima, um bilhete de viagem do Rio de Janeiro a "Miraí", já escrito na atual ortografia.
Abaixo, mais duas belas panorâmicas do centro da cidade, vendo-se a Estação de Mirahy.
HISTÓRICO:
O último
trecho da Estrada de Ferro Cataguazes ligando a Estação Glória à Santo
Antônio do Muriahé (Mirahy) foi inaugurado em 31 de dezembro de 1895. O Ramal
tinha a extensão de 48 km até sua Estação Terminal, que recebeu o nome de “Mirahy”.
Em 1902 o
Ramal passa a ser explorado pela “The Leopoldina Railway”.
Além do
transporte de passageiros, Mirahy se destacava na produção de café, chegando a
ser o quarto maior produtor de café da região. Na safra 1925/1926 o Ramal chegou
a transportar 94.522 sacas de café produzidas em Mirahy (dados da Gazeta de Leopoldina – fevereiro de 1927).
Com o fim da
lavoura cafeeira e a ocorrência de outras crises, além do crescimento do transporte
rodoviário por caminhão, o transporte ferroviário entrou em severo declínio,
levando à extinção de vários ramais. Em 31 de março de 1967 o Ramal
de Miraí foi extinto.
Acima, mais um registro histórico do Trem em Mirahy.
A ESTAÇÃO:
Mais uma Estação que encontrei belíssima, tendo acabado de passar por um completo trabalho de restauração pelo poder público municipal, que também está realizando uma grande obra de urbanização e infraestrutura em todo o seu entorno.
Ponto final
do Ramal, a antiga Estação Ferroviária de Mirahy - cujo
dístico foi mantido na antiga ortografia - é hoje a Rodoviária
Municipal, mesmo destino dado a muitas estações de nossa região. O prédio
encontra-se em excelente estado de conservação e nele também funcionam uma
agência do Banco do Brasil, uma lanchonete e a área de vendas de passagens da
rodoviária, onde os antigos guichês da época da ferrovia ainda são usados.
HISTÓRIAS:
Visitar as cidades por onde passaram os trens da EFL nos remetem a muitas e
belas histórias, como a do Sr. Nilton Horta, ferroviário que
constituiu sua família e com ela passou por muitas cidades onde trabalhou, mas
que guarda maior recordação de Mirahy, onde permaneceu por mais tempo.
Foi o Sr.
Nilton, morador de Bicas à época deste relato, que me explicou a diferença das
chaminés das locomotivas a vapor, umas com tubo estreito e outras com aqueles
proeminentes bojos largos se destacando. Disse que era devido ao fato de, na
falta de carvão para queimar na fornalha, passaram a usar lenha para a queima e
as chaminés estreitas permitiam que pedaços de lenha em brasa voassem pelos
céus saindo com grande pressão caindo nas matas próximas ao leito da ferrovia
provocando grandes queimadas. A chaminé de bojo largo possuía um dispositivo
que praticamente eliminava este problema. Pequenos detalhes que só conhecemos
conversando com antigos ferroviários como o Sr. Nilton.
UMA VIAGEM AO PASSADO NO TREM DE MIRAHY, POR MILTON
MIRANDA.
Convido os amigos da página otremexpresso e a você meu amigo, meu conterrâneo da Cidade
de Mirahy a embarcar em uma aventura imaginaria, mas com requintes de muita
criatividade em nossa imaginação.
A recordação do local na época, ainda nítida em
minha memória, não corresponde às condições do local atualmente. Não mais como
antigamente, mas, com a restauração da edificação, será possível o
desenvolvimento de projetos culturais, fazer alguns registros de tudo como era
na época. Tombado como Patrimônio histórico a Estação Ferroviária (Hoje
Rodoviária).
De volta ao
passado.
No dia 31 de dezembro de 1895 foi criada a Estrada
de Ferro Cataguazes, a Linha que tinha como trajeto de Cataguases, para Mirahy
com bifurcação para Santana de Cataguases. O Ramal Cataguazes, foi construído
pelo barão do Café Coronel João Duarte. Diga-se que para iniciar as obras o
coronel conseguiu a outorga pela província de Minas Gerais conforme as Leis nº
3.652, de 01 de setembro de 1888 e Lei nº 3.785, de 14 de agosto de 1889. A
concessão inicial foi dada a Christiano Dias Lopes, que por falta de capital
não conseguiu prosseguir com o projeto. Aí assume o banqueiro e coronel João
Duarte contratando o engenheiro Jacyntho Adolpho de Aquillar Pantoja. Para
agilizar os trabalhos da construção do ramal ferroviário, Pantoja contratou o
também engenheiro Joaquim Nunes TASSARA (No cemitério de baixo existe túmulo
dos Tassaras), e também foi contratado o engenheiro Antônio Bergamini. No dia 10
de outubro de 1902, conforme decreto estadual nº 1.562, o ramal ferroviário foi
vendido pelo Cel. João Duarte à empresa The Leopoldina Railway Company Limited,
de Londres (INGLATERRA). A viagem inaugural de 35 km’s do ramal Mirahy a
Cataguases foi realizada no dia 01 de Janeiro de 1903. Esse ramal para Mirahy
tinha as seguintes estações e paradas: Parada de São Diniz; Estação Sereno;
Estação do Glória; Parada Joaquim Vieira; Parada João Resende; Parada Aldeia;
Parada Santa Tereza e Estação de Mirahy. Nós crianças da época tínhamos a nossa
vida ligada aos trilhos, andar em cima dos trilhos, pelos dormentes, ajudar a
virar o trem no “viradô”, catar carbureto para colocar fogo na água no rio
fubá, colocar moedas de centavos na linha para serem amassadas pelo trem. Subir
nos vagões, soprar no engate dos vagões, pegar rabeira no trem quando ele ia
para o viradô, mexer na tubulação da caixa d’água que alimentava a locomotiva,
tentar virar a chave (ferramenta que mudava o trem de linha para manobra) em
fim eram algumas das peraltices que a criançada fazia. Boas lembranças do
Bebeto (cobrador-Famoso) Sr. Eugenio,
dos maquinistas, foguistas Sr. Panza, Elmo Pimentel de Oliveira do
“trolinho” que invariavelmente aparecia para a nossa alegria, trabalhadores que
fazia o “trolinho” andar com paus como remos. Normalmente o trem saía da
estação de Mirahy às 7:15 da manhã e retornava de Cataguases às 17:25, percurso
que durava cerca de 2 horas, às vezes aparecia um trem com o nome de misto e a
viagem até Cataguases demorava cerca de 2 horas.
O ramal foi desativado definitivamente em 31 de
dezembro de 1967.
Palco de
lendas.
A estação Mirahy foi palco de muitos encontros e
desencontros, com chegadas e partidas, personalidades como Ataulpho Alves
quando criança que foi pegador de malas, e depois já no sucesso da fama viajou
nesse mesmo trem já como artista consagrado. Muitos vão se lembrar de uma
senhorinha, muito baixinha, sempre descalça com cabelos longos, mas sempre em
tranças enormes, me parecia ser descendente de índios purís, que sempre vinha à
rua pelos trilhos do trem. Conta-se que ela já idosa não ouvia bem o barulho do
trem e muitas das vezes se deparava com o trem em cima do pontilhão na altura
do correio de casas e afirmasse que sem a menor lógica o trem passava por ela
em cima do pontilhão, coisas e folclores da época. Saindo do folclore, um fato
que marcou muito foi de alguns rapazes da comunidade terem colocado fogo na
caldeira da locomotiva e conseguirem fazer o trem andar por alguns quilômetros.
O fato trouxe um grande problema policial, mas tudo ficou resolvido porque um
dos jovens era da elite e filho de político influente da época. Nos primórdios
a estação era ponto de encontro de pessoas, não só para os Miraienses que
viajam com destino a Cataguases e Rio, mas também para o encontro de pessoas
que ficavam esperando por passageiros que chegavam e sempre trazendo novidades,
como era o caso dos chamados comissários. Os comissários eram as pessoas que
iam, principalmente ao Rio de Janeiro para fazer compras, e ou buscar encomenda
de alguém. Na Estação e pelos trilhos do Trem eram escoadas todas as
mercadorias que iam para o porto do Rio de Janeiro, principalmente o Café. Ou
seja, pelos trilhos eram escoadas a riqueza e a opulência da região. De tudo
isso, de toda essa história nos restou o prédio da Estação Mirahy, o que restou
realmente de uma época em que a Maria Fumaça, o apito do trem, o cheiro da
lenha queimada, do carvão e dos barulhos da Locomotiva e dos vagões marcavam o
ritmo da cidade. Para nossa alegria no dia 03 de abril do ano de 1974, o então
Prefeito Municipal Dr. Luiz Alves Pereira, teve a feliz ideia de comprar para o
Município o prédio da Estação, com aproximadamente 158m² pagando-se pela
transação o valor de Cr$ 8.450,00 (oito mil quatrocentos e cinquenta
cruzeiros). Nos anos de 1970(?) alguns trilhos começaram a serem arrancados. No
ano de 1985, o então Prefeito Dr. Dinardo Triane, concluiu a restauração da
antiga Estação, para deixá-la em condições de se transformar na atual
Rodoviária da Cidade.
Lanterna a base de carbureto, usada pelos ferroviários da EFL.
Nas fotos abaixo cedidas por Hugo Caramuru, Mirahy em dois tempos.
11 comentários:
que saudade da professorinha....que me ensinou o be aba....na pequenina Mirai...era ai....??? Ataulfo alves....
Um trecho na chegada da cidade passava na rua do primeiro imóvel da Fábrica de doces Mirahy e também aonde morava o irmão do Sr, Oswaldo Peixoto de Resende.
No prédio em frente, funcionava a Companhia Fiação e Tecelagem Alves Pereira.
Depois foi adquirido pela Companhia Força e Luz Cataguases Leopoldina, hoje Energisa.
Essa empresa inicial era a concessionária de energia elétrica de Mirahy.
Essa rua se chama: Expedicionário José Baldine.
Vicenzo Osiel Menta
Saudades... meu pai trabalhou por muitos anos neste ramal.
Geraldo Bernardo
Boa tarde, Mirahy 04-04-2023, Amarildo, quando está previsto a atualização nas postagens da ESTAÇÃO MIRAHY?, parece que o Amigo tem algumas novidades!
Matéria atualizada em 08 de abril com muitas novidades!
Excelente! Nossa rodoviária ganhou vida com essa pintura!
Pretendo fazer uma réplica de nossa estação para colocar em minha maquete de ferreomodelismo.
Amarildo José Mayrink, Parabéns! Fantástico o trabalho que você faz de resgate da história e da memória da Rede Rerroviária!
Milton Miranda
Ah, muito legal!
Eu tenho essa página como referência na construção de minha maquete de ferreomodelismo.
Aliás, estou ainda na dúvida de qual época retratar a nossa estação, pois vou fazer a réplica dela.
Minha maquete é de época (com casas e uma fazenda de arquitetura antiga) e estou usando uma Ten Wheeler rodando nela e futuramente uma Consolidation também.
Wagner Rotondo
Que matéria linda Amarildo e com informações e fotos belíssimas. E como sempre Milton Miranda sempre acrescenta muito com suas fotos e história.
Visitei Miraí na semana passada está lindíssima.
Obrigado por compartilhar.
Rosangela
Amarildo que matéria linda sobre nossa Miraí. Fico muito feliz pelas informações, resgaste da história e fotos que vi nesse nesse blogger a qual não tinha visto ainda. Muito obrigado por compartilhar. Como sempre tudo que se fala de Miraí tem alguma foto do Milton Miranda que sempre guarda e compartilha com muito carinho.
Visitei Miraí recentemente e falo esta linda.
Essa obra minimalista ficou incrível e valorizou muito.
Sobre a Replica do Wagner seria incrível.
Parabéns Amarildo pela reportagem e sucesso para você.
Fantástica essa atualização! Parabéns pelo belíssimo trabalho de resgate da história Ferroviária da EFL.
Gilmar De Oliveira Costa
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