sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

SÉRIE DOCUMENTOS HISTÓRICOS - Uma preciosidade: Mapa completo das linhas da LEOPOLDINA RAILWAY.


Trago aos amigos leitores um dos mais antigos e completos mapas das linhas da antiga LEOPOLDINA RAILWAY, antes de ser criada a Estrada de Ferro Leopoldina, presente de meu grande amigo Nem Cunha, também ferroviário e grande amante da ferrovia. 
Quando Nem me ligou dizendo ter uma surpresa para mim, não imaginava que fosse um documento de tão grande valor histórico, agora disponível a todos os interessados na história da Leopoldina.
Interessante observar as propagandas de época, bem como notar a grafia de alguns nomes como Nictheroy, Macahé, Santa Maria Magdalena, Muriahé e Victória, entre outros.
Para uma leitura mais detalhada, click sobre o mapa para ampliá-lo.
Após publicá-lo aqui, Nem Cunha manifestou seu desejo de doar o mapa original para o Museu Ferroviário aqui de Bicas, preservando-o para a história. 

Uma raridade, presente do grande amigo Nem Cunha! O mais completo mapa que já vi das linhas da LEOPOLDINA RAILWAY, posteriormente Estrada de Ferro Leopoldina.






sábado, 11 de janeiro de 2014

ESTAÇÃO SANTANA DE CATAGUAZES - Estação Terminal de mais um ramal da Estrada de Ferro Leopoldina.


Matéria atualizada em 04 de abril de 2023.


Acima, a belíssima Estação em minha última visita à cidade, em março de 2023. Em destaque o belo dístico "Santana de Cataguazes", ainda escrito com "z".
 

Abaixo, uma composição fotográfica que realizei para relembrar os bons tempos da ferrovia.


Abaixo, mais alguns belos registros que realizei em março de 2023, que comprovam a importância de se valorizar o Patrimônio Histórico.




 


A foto abaixo, de Gilmar Oliveira Costa, realizada em 2021 mostra a belíssima Estação logo após a realização de ampla reforma. 


Pintura do artista santanense Jerus da Fonseca Santos, apresentada por Ernane Machado Milane.



Quadro de horários dos trens publicado em jornal da época da ferrovia em Santana de Cataguases. 



Abaixo, a Estação de Santana de Cataguases ainda sem o dístico. Fotos que realizei em minha primeira visita à cidade em janeiro de 2014.




Acima, um recorte do Google Maps com as localizações da Estação de Santana de Cataguases com do seu Triângulo de Manobras; da Estação/Parada de Costa Sena e do antigo leito ferroviário do Ramal.







Estação SANTANA DE CATAGUAZES
Antiga João Pinheiro





Ramal: Santana de Cataguazes – Km 369,984 (1960)

Altitude – 229m
Estive na Estação em: janeiro de 2014 e em março de 2023.
Estação inaugurada em: 14 de abril de 1895.
Uso Atual: Prédio totalmente restaurado abriga o Centro Cultural Municipal. 
Situação Atual: Ramal erradicado. Sem trilhos. 

E. F. Cataguazes (1895-1903)

E. F. Leopoldina (1903-1967)





HISTÓRICO:

Da Estação de Sereno, no Ramal de Miraí, partia outro Ramal para Santana de Cataguases, que permaneceu em atividade até o ano de 1965, quando foi definitivamente erradicado.

A cidade de Santana de Cataguases - denominada anteriormente como João Pinheiro - recebe o visitante com sua antiga Estação Ferroviária logo na entrada da cidade, na praça João Remígio Resende Filho.

Minha primeira visita a Santana de Cataguases aconteceu em janeiro de 2014, quando encontrei a antiga Estação em reformas, como pode ser visto nas fotos.

Após receber a boa notícia da reforma da Estação e o belíssimo registro fotográfico de Gil Costa que despertou o meu desejo em retornar à cidade, eis que em março de 2023 recebo o gratificante convite de Humberto Mathias - Diretor do Patrimônio Histórico e Cultural do Município, para retornar a Santana de Cataguases e conhecer de perto o belo trabalho que vem sendo realizado. E lá fui eu para mais uma bela e agradável viagem pelos caminhos da Estrada de Ferro Leopoldina.

 

Acima, antigo mapa da E. F. Cataguazes com as Estações dos Ramais de Mirahy e de Sant'Anna (de Cataguazes).

 

MINHA PRIMEIRA VISITA:

Em minha primeira visita encontrei a antiga Estação em reformas, com as telhas da cobertura da antiga plataforma agrupadas no chão. Segundo me informaram no local, houve a necessidade de trocar o madeiramento do telhado por medidas de segurança. Nela vinha funcionando um escritório da EMATER antes de iniciarem a reforma. Após uma seção de fotos, busquei mais informações sobre ela em um posto de saúde localizado bem em frente.

Mais uma vez a sorte estava do meu lado! Fui super bem recebido pela agente de saúde Sra. Eduvirges Milane, que ficou feliz com o objetivo da minha visita. Veio então mais uma bela surpresa quando ela pediu que aguardasse e ligou para seu filho Ernane Machado Milane e depois me disse: “olha, meu filho tem uma bela pintura de um artista local que retrata a chegada do trem aqui na estação, tenho certeza que irá gostar!”.

Com as coordenadas de Dna. Eduvirges segui para o centro da pequena, mas agradável cidade e facilmente encontrei a casa de Ernane, que já me aguardava com mais informações sobre a passagem do trem na cidade. Apresentou-me a página da cidade - “Memória Santanense” - no facebook com um belíssimo e histórico acervo onde encontramos mais registros fotográficos da ferrovia na cidade, destacando duas delas mostrando que a Câmara Municipal de Santana de Cataguases já funcionou na antiga Estação.

Em seguida, trouxe duas belíssimas telas, obras do artista local Jerus da Fonseca Santos, uma retratando a praça principal da cidade destacando a Igreja Matriz e a segunda, aquela que Dna. Eduvirges havia me indicado, a chegada do trem na Estação de Santana de Cataguases.

  


O GRATIFICANTE RETORNO À CIDADE:

E veio então o gratificante convite para retornar à cidade e ver de perto o belíssimo trabalho que a Diretoria de Patrimônio Histórico e Cultural vem realizando.

Não sei se é possível descrever minha alegria e a maravilhosa sensação de realização em reencontrar uma antiga Estação Ferroviária totalmente restaurada e bela, mas foi exatamente isso que senti!

Recebido por Humberto Mathias, fui conhecer em detalhes o belíssimo prédio, que se tornou um Centro Cultural Municipal e nele funcionam a Biblioteca Municipal Jeny Resende Duarte, que também possui suas primeiras peças históricas ferroviárias em exposição; uma Sala para Jogos de Xadrez que despertou minha atenção pela grande participação das crianças; e a terceira sala, a Estação da Arte, que abriga belas obras de arte dos artesãos santanenses.

Parti então para a sessão de fotos; registros que apresento com grande alegria a todos os leitores de nossa página.

É a história da Estrada de Ferro Leopoldina sendo resgatada e muito bem preservada!



Abaixo, mais alguns registros da Estação de Santana de Cataguases em março de 2023; a Biblioteca e a Estação da Arte.






 


Acima, a bela Praça Agostinho Alves de Araújo, a Praça da Matriz.

Abaixo, antigo registro da mesma praça em vista aérea.


Abaixo, registros da Estação em janeiro de 2014.






Grandes e belas histórias contadas pelo Sr. Betinho.

LEMBRANÇAS DE ROBERTO FERREIRA DE CASTRO, O SR. BETINHO:

Na Secretaria Municipal de Educação conheci Madalena Garcia Castro, que lembrou das histórias contadas por seu pai, Roberto Ferreira de Castro, o Sr. Betinho.

Fomos então ao seu encontro na zona rural da cidade. E que encontro! Quantas informações valiosas e belas histórias!

A seguir, suas lembranças...

“O Trem misto – cargas e passageiros – partia de Santana. Quando chegava em Sereno o daqui parava esperando o Miraí, aí emendava um no outro. Os passageiros não desembarcavam em Sereno. Chegava em Sereno e assim que o Miraí chegava, emendava um no outro e ia embora.

Três dias ia o de Santana até Cataguases, três dias ia o de Miraí. Ou seja, quando era o dia do Trem de Santana ir até Cataguases, os vagões do Miraí engatavam no Trem de Santana. Quando era dia do Trem de Miraí ira até Cataguases, eram os vagões de Santana que engatavam no Trem de Miraí. Três dias a máquina do Miraí ficava em Sereno; três dias ficava a e Santana.

Os Trens para Miraí e para Santana de Cataguases só funcionavam de segunda a sábado. No domingo os ramais não funcionavam.

Existia um Triângulo de Manobras, onde a máquina que ficava em Sereno virava para retornar ao seu destino na viagem da tarde.”

Uma das coisas que marcou o Sr. Roberto na sua infância e juventude é que na chegada do Trem, vinham muitos passageiros com suas bagagens e a molecada aproveitava para ajudar a carregar as malas e ganhar uns trocados:

“Juntava mais de quinze meninos! Era os maleiros! Chegavam passageiros que moravam lá na “cidade alta”, a gente ganhava duzentos réis, quinhentos réis, um tostão pra levar a mala lá em cima. Vinha todo alegre, não tinha dinheiro, ué!”

Segundo o Sr. Roberto, em Santana de Cataguases também tinha um Triângulo de Manobras para virar as Locomotivas:

A máquina chegava de Sereno, desengatava e ia de “fasto” até o “viradô” - o Triângulo – virava, pegava a linha direta, virava a chave e voltava de “fasto” pra estação de Sereno, engatava nos vagões para fazer a viagem de volta.”

Segundo oSr. Roberto, em Santana de Cataguases existia um pátio de manobras, onde os vagões eram desengatados um a um, levados a um desvio que existia antes da chegada à Estação, virava-se a chave e o vagão era levado até um segundo desvio que existia depois da Estação. Assim eram perfilados de forma invertida para seguirem de volta a Sereno:

“O pátio de manobras tinha duas linhas, uma pra chegar e outra pra fazer a manobra dos vagões.

Há vinte, trinta metros da Estação tinha a Caixa d’água. Me lembro do maquinista Sr. Clorismundo.

Existia uma Casa do Chefe da Estação, onde morou o agente da estação José Borba, onde depois funcionou um posto de saúde.

Existia também o moço responsável pela limpeza da Estação, o João Biá, que capinava em volta da Estação; passava um “negócio” na chave pra ficar “alumiando” – a lubrificação; enchia a caixa d’água; quando chegava o vagão de tarde ele é que descarregava, enchia a Estação tudo de mercadorias e carregava outras mercadorias para a viagem de volta. A parte de lá da estação (sentido Sereno) era o armazém, costumava ficar sempre cheia de sacas de arroz, feijão, milho e café. O João Biá enchia o vagão sozinho!

Na sala do meio onde ficava o estafeta José Borba tinha a bilheteria.

Muitas vezes a gente chegava na estação de Cataguases e o Trem estava atrasado “300 minutos”. Tinha que esperar! Não tinha outra condução, só tinha ele! O Trem de Santana que estava em Sereno tinha que esperar o Trem vindo de Cataguases. As vezes a gente ficava até tarde esperando o Trem.

No trevo de Santana tinha uma parada que chamava Paradinha.”

Outra recordação:

“Eu casei em 1960, depois de casados nós fomos tirar retrato em Cataguases. Nós fomos de Trem! Levamos as roupas, vestimos as roupas, tiramos retrato, tiramos as roupas e voltamos. Trabalhei sexta-feira o dia inteiro cortando cana pra casar no sábado. Domingo era domingo, né! Segunda-feira acordei cedo e fui trabalhar de novo!”

O Sr. Roberto não lembra de nenhum acidente no Ramal de Santana. Tratava-se de um Ramal plano em quase toda a sua extensão.

“Tinha um velhinho que era surdo e gostava de andar na linha do trem, chamava "maco-maco". Ele não gostava que chamasse ele de maco-maco de jeito nenhum! Se chamasse, ele partia em cima de você. Eles não deixavam ele sair antes das sete horas. Um dia esqueceram dele e ele saiu, aí logo pra baixo de Santana o Trem matou ele. O Trem buzinou, apitou, apitou, mas não teve jeito.”

Segundo o Sr. Roberto, nunca foi uma Locomotiva Diesel até Santana. “Foi Maria Fumaça até parar.”

"Aqui na fazenda da fumaça, no tempo do Fernando Lobo, o irmão dele "muntou" numa mula, que derrubou ele e arrebentou a bexiga dele. Ele “teve” na casa do papai muito tempo gritando. Aí não tinha nem uma condução, chovendo o dia inteiro. Sabe o que fizeram? Vieram buscar ele aqui em Santana de trole. Veio um trole, buscou ele aqui em Santana e levou ele pra Cataguases! Trole empurrado - tracionado - na vara de madeira, tinha um prego na ponta que batia nos dormentes e fazia ele correr na linha. Dois homens tocando o trole. Esse trole era só para os trabalhadores.

E tinha um “bandeirinha” que vinha a pé todo dia, saía de Sereno e vinha a Santana. Trazia uma bandeirinha azul, voltava com um bandeirinha branca. Quer dizer que não tinha nada errado na estrada! Que o agente podia despachar o Trem. Era assim todo o dia! Ele chegava na estação, entregava a bandeirinha ao agente que lhe entregava a outra e ele voltava para Sereno.

Aqui em Santana tinha um guarda-freio chamado Eduardo “bomba”. Tudo que ele falava, falava “bomba”! Era ele que “desemendava” o vagão da máquina pra poder virar.

O Trem tinha o maquinista, o foguista, o guarda-freio e o condutor.

Histórias que ficarão para sempre registradas em nossa página...



O Trem na Estação de João Pinheiro, futura Santana de Cataguazes.



A Praça da Matriz, vendo-se a Estação no centro, ao fundo. Foto de Gordinho KTA - Memória Santanense.



Foto de Vinícios de Souza Oliveiras - Memória Santanense.



Segue um breve histórico de Gilmar de Oliviera Costa, de Santana de Cataguases:

"A estação de João Pinheiro foi inaugurada em 1895 pela E. F. Cataguazes. Ela era a estação terminal do Ramal de Cataguazes. O Guia Geral das Estradas de Ferro de 1960 dá como data de inauguração da estação o ano de 1903, o que pode ser, na verdade, apenas a data de incorporação pela Leopoldina, que adquiriu o ramal nesse ano. Nos anos 1940 passou a se chamar Santana de Cataguazes. Foi fechada com o ramal, em 10/04/1965. Para se ir com o trem para lá, em 1962, havia que se embarcar em Cataguazes às 17:25 e descer em Sereno às 17:52, onde se baldeava, às 18:20, para Santana de Cataguazes, onde se chegava às 18:55. Para voltar, o trem saía para Sereno, no percurso contrário, às 7:35 da manhã do dia seguinte. (Fontes: Guias Levi, 1932-1970; Guia Geral das Estradas de Ferro, 1960; Edmundo Siqueira, Resumo Histórico da The Leopoldina Rwy. Co. Ltd., 1938) HISTÓRICO DA LINHA: Os dois ramais, o de Miraí, que partia de Cataguazes, e de Santana de Cataguazes, que partia de Sereno, no primeiro ramal, foram abertos em 1895, pela E. F. Cataguazes, empresa que foi incorporada à Leopoldina em 26/03/1903. O ramal de Cataguazes foi suprimido em 10/04/1965 e o de Mirai, em 31/03/1967."



Abaixo, mais alguns registros da Estação em 2014.











 A Praça da Matriz, em mais uma pintura do artista santanense Jerus da Fonseca Santos, apresentada por Ernane Machado Milane. 



Nas fotos abaixo, na antiga Estação funcionou também a Câmara Municipal de Santana de Cataguases.