Recebi
do grande artista Wilson PS, importante colaborador desta página, relato de uma
belíssima e interessante história da Estrada de Ferro Leopoldina que trago aos amigos leitores.
Venho
lhe agradecer pela postagem da matéria do Jornal O DIA, de abril de 2004 destacando
os 150 anos da primeira ferrovia do Brasil, na estação de Guia de Pacobaíba. A referida matéria também dava destaque à história
do Sr. Walter Ferreira da Silva, meu saudoso pai, considerado o último
telegrafista vivo que trabalhou em Guia de Pacobaíba.
Aproveitando o ensejo, gostaria de dividir com os amigos leitores da página
otremexpresso uma das interessantes histórias do Sr. Walter Ferreira da Silva, muito
conhecido em toda a Leopoldina como "Blusão de Couro". E não sou eu o
único que afirmo, sou suspeito: "Blusão de Couro" era considerado o
melhor Radiotelegrafista da Leopoldina e por isso muito respeitado. Também era
famoso por proteger muitos companheiros de injustiças que aconteciam
no ambiente de trabalho.
Sr.
Walter Ferreira da Silva, natural de União dos Palmares, no Estado de Alagoas
ingressou na Leopoldina Railway em 1947. Seu irmão Oswaldo Ferreira da Silva
(Vavá) era telegrafista na Great Western, mas veio para o Rio e ingressou na LR
por volta de 1944 e 1945. Além de seu irmão Oswaldo, Walter tinha mais três
irmãs, sendo o caçula da turma. Estando Vavá na LR, logo Walter veio para o Rio
de Janeiro, depois, duas de suas irmãs. Walter ainda antes de alistar-se no
Exército ingressou na LR, teve licença e depois retornou aos quadros da
ferrovia inglesa. Já havia aprendido o telégrafo, mas preferiu a vaga de
porteiro e assim começou sua trajetória profissional na LR, pois soube que
muitos que tentavam ingressar na Estrada como “telegrafista” acabavam sendo
eliminados devido à pressão psicológica que sofriam na hora do exame.
Orientado, preferiu começar como porteiro, mas logo foi promovido tendo
trabalhado em várias estações do subúrbio, as de maior movimento, entre as
quais Saracuruna, Caxias, Penha, Ramos, Olaria, Benfica, Guia de Pacobaíba e
Petrópolis. No início dos anos 1960 foi promovido a Agente Especial de
Movimento de Trens - Radiotelegrafista, designado para trabalhar no terminal
Barão de Mauá, onde nos anos setenta me levava para praticar.
Mas
qual a origem do pseudônimo "Blusão de Couro” que o tornara conhecido por
quase toda a Leopoldina?
Muitos
dos ferroviários não eram conhecidos pelos nomes, mas por apelidos, e “O Blusão”,
não era exceção. Aconteceu quando trabalhava em Duque de Caxias, no início dos
ano 1950, um episódio um pouco misterioso. Um indivíduo cometera suicídio,
tomara veneno, seu corpo estendido próximo da estação. Era noite e algum
companheiro de serviço decidiu aprontar. Escreveu um bilhete que dizia: "Adeus mundo cruel, deixo um abraço para
fulano e este blusão par o Walter" e pôs na mão do defunto que vestia
um blusão de coro. Coisa de ferroviário zoador, rsrsrsrs! Os apelidos pegaram,
um ficou conhecido como "Abraço de defunto" e meu pai como
"Blusão de Couro".
Quando
"Blusão de Couro” pegava um trem para conhecer estações que nunca estivera
era recepcionado e tinha que dar uma palhinha no telegrafo para os amigos. Em
Japuíba era uma grande acolhida.
Quando
trabalhava em Campos e algum colega chegava meio "calibrado" mandava
voltar para casa e tomar um banho, depois o cabra tinha que tirar serviço num
fim de semana ou feriado para o amigo que o substituíra. A filosofia do
"Blusão de Couro" era “jamais prejudicar um companheiro e sim discipliná-lo”
como um verdadeiro chefe e amigo. Muitos não perderam seus empregos por causa
dele.
O
amigo Antonio Nunes, antigo Radiotelegrafista em Campos, fez-me o seguinte
relato: "Certa vez, no início da
minha carreira como radiotelegrafista, estava em circuito em Cachoeiro de
Itapemirim e um operador metido a bonzão se desfez de minha pessoa, por conta
de três telegramas atrasados, ora eu era novato, aí o "Blusão de Couro"
comprou o barulho e deu uma lição no bam-bam-bam. Ele reclamou de mim por conta
de três telegramas, mas acabou se perdendo em trinta outros com o meu mestre.
Blusão de Couro depois da lição disse-lhe que não era bom um amigo querer
humilhar o outro, acho que o cara aprendeu a lição.”
O
Sr. Walter Ferreira da Silva, o inesquecível “Blusão de Couro"
aposentou-se em 1984, sem jamais perder o elo com seus companheiros
Leopoldineses. Considerado o último telegrafista vivo em 2004, foi entrevistado
pelo jornal O DIA e participou do documentário "A Ferrovia no Brasil, ontem, hoje, e adivinhem amanhã"
do SESEF. Foi homenageado pelo Enº Luiz Antonio Cosenza e recebeu a
condecoração Eng. Paulo de Frontin. O Sr Walter Ferreira, ou "Blusão de
Couro" para aqueles que o conheceram e conviveram com ele nos deixou em
2009 aos 80 anos deixando muitas saudades.
Eis
aí um pouco da história de meu pai.
Por
Wilson Peixoto da Silva, mais conhecido como Wilson PS por suas belas obras de arte tendo como tema a Estrada de
Ferro Leopoldina.
Conheça a
história da Estação Guia de Pacobaíba no link abaixo:
https://otremexpresso.blogspot.com/2016/06/estacao-guia-de-pacobaiba-o-porto-da.html
2 comentários:
Olá!!! Blusão de Couro sempre foi ESPECIAL!!! Primeiríssima qualidade, e este fato que aconteceu em que ele assumiu o "circuito" (o posto) em que eu estava sendo humilhado devido ser novato e com pouca experiência é VERDADEIRO... Ainda hoje me lembro de Blusão de Couro com grande carinho e amor!!!!!!
Por Antonio Nunes
Você sempre com belas postagens de nossa antiga Ferrovia.
Horácio Corrêa cardillo
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