domingo, 14 de abril de 2019

ESTAÇÃO PORCIÚNCULA - Uma cidade que nasce da ferrovia, de sua Estação. Sem dúvida, uma bela história.

Matéria atualizada em 20 de agosto de 2023.


Acima, a Estação de Porciúncula em minha última visita, em junho de 2023.

Abaixo, o belíssimo, mas triste registro da passagem do último Trem por Porciúncula.




Acima, mais dois registros da Estação de Porciúncula em minha última visita, em junho de 2023.

Belíssima arte pintada em tela exposta na Praça ao lado da Estação.  





Acima, mais três registros da Estação de Porciúncula em minha última visita, em junho de 2023.

Abaixo, belíssimo registro da Estação de Prociúncula, vendo-se o trem estacionado na plataforma. Restauração fotográfica – Amarildo Mayrink.


Outro belo registro de Porciúncula, vendo-se a Estação – no centro, no alto da foto. Restauração fotográfica – Amarildo Mayrink.


Belíssimo registro da Estação. Restauração fotográfica – Amarildo Mayrink.


Na foto acima, a arte que marcou as comemorações pelos 125 anos da Estação de Porciúncula.






Estação PORCIÚNCULA - RJ

antiga Santo Antônio do Carangola



De Porciúncula pela Linha de Carangola para Itaperuna.



Linha de Manhuaçu – Km 413,619.
Altitude: 188m.
Estação inaugurada em: 20 de junho de 1886.
Estive no local em: março de 2019 e junho de 2023.
Uso atual: Centro Cultural Dr. Edésio Barbosa da Silva. Prédio em ótimas condições.
Situação Atual – Trecho declarado erradicado e sem trilhos.

Cia. E. F. Carangola (1886-1890)

Cia. Barão de Araruama (1890)

E. F. Leopoldina (1890-1975)

RFFSA (1975-1979)






HISTÓRICO:


Em minha primeira vista à Estação de Porciúncula em março de 2019 foi uma grande, bela e agradável surpresa a acolhida dos novos amigos que conquistei na simpática cidade fluminense, razão pela qual foi possível apresentar um dos mais completos e ricos artigos sobre uma antiga Estação Ferroviária da E. F. Leopoldina. Foi uma visita que me proporcionou extrema alegria e o gratificante sentimento de realização!
Naquela oportunidade fui super bem recebido por Ivana de Paula Porto e Fabiano Moreira de Souza, jornalistas a serviço da Prefeitura de Porciúncula, oportunidade de conhecer a história da cidade e receber fotos espetaculares que resgatam a importância histórica da ferrovia. Fotos que com grande prazer realizei suas restaurações para apresentar aqui.
Oportunidade também descobrir que na antiga estação – hoje Centro Cultural Dr. Edésio Barbosa da Silva – funcionava a Secretaria de Cultura e a Secretaria de Turismo, Esporte e Divulgação. Lá também funcionava a bem equipada Biblioteca Heloy Vieira Lannes.
Apresentamos então o maravilhoso trabalho de pesquisa realizado por Ivana, a quem agradeço, juntamente com Fabiano pela atenção e carinho com que me receberam em 2019.

Vamos então a mais uma bela história!

Na sequência de fotos abaixo, registros feitos em minha primeira visita a Porciúncula em março de 2019.

















APRESENTAÇÃO DO MARAVILHOSO RESGATE HISTÓRICO.

Em comemoração pelo aniversário de 125 anos da construção da Estação Ferroviária, no entorno da qual nasceu o município de Porciúncula, prédio que hoje abriga a cultura e a memória do nosso povo, a Secretaria Municipal de Cultura preparou e realizou grandes eventos culturais, resgatando e contando a história deste imóvel que está preservado e imponente no centro da cidade, desvendando a colonização, a formação do povo, seu modo de vida, lutas, desventuras e vitórias.
Estando a antiga Estação Ferroviária localizada no centro comercial da cidade, sua arquitetura deslumbra os turistas e nos remete a outros tempos e a grandes personagens históricos.
Para destacar sua importância histórica, a Secretaria de Cultura preparou uma minuciosa pesquisa baseada nos documentos do Arquivo Histórico Municipal Adriana Amélia Pinto Coutinho e no acervo doado pelo historiador Gérzio Calzolari, visando conhecer e divulgar com a máxima riqueza de detalhes a história deste prédio, que testemunhou o desenvolvimento de nosso arraial até se transformar em cidade e, com o fim dos trens, ganhou nova utilização, a “Sede da Cultura e História” de Porciúncula.
A partir de então, este trabalho ficou disponibilizado aos porciunculenses, aos pesquisadores e historiadores resgatando a história e unificando as informações para facilitar o estudo e o conhecimento. Aliado a isto, realizou-se uma bem elaborada programação comemorativa no Centro Cultural Dr. Edésio Barbosa da Silva.
* Pesquisa feita por Ivana de Paula Porto nos meses de janeiro a março de 2018.
Ivana de Paula - Assessoria de Comunicação - SMC/PMP

Sob a coordenação da arquiteta porciunculense Cristine Gonçalves de Souza, registros da reforma que tornou a histórica Estação um dos mais belos prédios da cidade.








A ESTAÇÃO:

A CONQUISTA DA SONHADA ESTAÇÃO FERROVIÁRIA.

No ano de 1888, um poderoso sindicato inglês comprou a Leopoldina e em outubro do mesmo ano comprou também a Estrada de Ferro Carangola, unindo as duas empresas e formando The Leopoldina Railway Company Limited. Não se sabe por que motivo, o acordo firmado pelo Comendador Cardoso Moreira permaneceu e a estação que todos esperavam que então fosse construída em Porciúncula, não saiu.
A situação continuou a mesma, isto é, o trem não parava em Porciúncula. Quem desejasse viajar para o Rio de Janeiro, tinha que tomar o trem em Tombos ou Antônio Prado. O povo não aceitou esta situação e os ânimos foram se exaltando. A situação chegou a um ponto insustentável e, chefiados por Joaquim Custódio Fernandes Lannes, o Juca Bravo, neto de José de Lannes e Cantidiano Rosa, os porciunculenses arrancaram os trilhos da ferrovia “The Leopoldina Railway”, no trecho compreendido entre a atual rua Deputado Luiz Fernando Linhares e a ponte sobre o rio Carangola.
O primeiro presidente da província fluminense, eleito em 1892, dr. José Thomaz da Porciúncula enviou vinte praças chefiados pelo Tenente Dória para acalmar os ânimos. O militar resolveu a questão prometendo interceder junto ao governo para a construção de uma estação no arraial. Foi então construída pela E.F. Leopoldina uma parada, numa plataforma de madeira para embarque e desembarque de passageiros, o que não satisfez o povo, uma vez que a compra de passagens e embarque de mercadorias só poderia ser feito nas estações de Antonio Prado e Tombos.
Inconformada com a situação, seis meses depois, a população arrancou os trilhos mais uma vez e os jogou no Rio Carangola. A companhia Leopoldina mandou funcionários armados de foices, enxadas e porretes, desfilando nas ruas do arraial para demonstrar força e restabelecer a estrada a qualquer preço. Percebendo o delicado momento e as trágicas conseqüências que poderiam acontecer, o governador da Província, José Thomaz da Porciúncula, mandou um destacamento para evitar o derramamento de sangue e deu permissão governamental, através de um decreto, para a construção da sonhada estação de parada, que muito melhoraria a vida dos moradores.
Inaugurada em 1893, a estação construída em outro ponto, no centro do arraial, foi tão importante que o próprio nome “Porciúncula” saiu de uma inscrição em suas paredes. Os funcionários da E. F. Leopoldina deram o nome do presidente da província, José Thomaz da Porciúncula à nova estação, em agradecimento por sua intervenção na solução do conflito. Primeiro ele foi escrito numa tabuleta, depois colocado em letras grandes na fachada do prédio. Com o tempo, ninguém mais conhecia a localidade por outro nome.
A estrada de ferro modificaria profundamente a região. A ferrovia derrubaria a mata, modificaria a vida e deixaria a paisagem local completamente alterada. Organizaram as fazendas representando uma efetiva economia na comercialização do café e trazia as novidades do litoral com impressionante rapidez. Com os trens, chegava a influência urbana da capital. Ampliava-se o consumo e criavam-se modismos. Diariamente, aportavam na estação, novos habitantes.
Assim, a chegada de imigrantes começou a alavancar o desenvolvimento do arraial. Vieram médicos, advogados, lavradores e aventureiros em busca de fortuna. As construções ao redor da nova estação começaram logo a surgir e o crescimento do arraial prosseguia rápido. A nova estação passou a ser o centro de Santo Antonio do Carangola e o nome Porciúncula passou a ser evidenciado. Anos mais tarde, em 1926, o deputado Porfírio Henriques teve aprovado um projeto que mudava o nome para Santo Antônio da Porciúncula. Em 1938, o interventor federal, Capitão de Corveta Ernane do Amaral Peixoto, através de um decreto-lei denominou a localidade: Porciúncula. O novo município passou a se chamar somente Porciúncula, sendo emancipado em 21 de agosto de 1947.
A linha férrea pertenceu à empresa The Leopoldina Railway Company Limited até 1951, quando foi comprada pela Rede Ferroviária Federal S/A - RFFSA. Em 1973, quase um século depois, os trilhos da velha Carangola foram arrancados. E em 1976, os da Leopoldina. No dia 9 de setembro de 1976, pela última vez Porciúncula veria passar uma locomotiva. O movimento de passageiros e cargas deu lugar às despedidas. Em 22 de janeiro de 1979 foi suprimido o trecho entre Porciúncula e Cisneiros, fechando de vez a estação.






Na foto acima podemos ver a bifurcação de saída para a Linha de Carangola em direção à Estação de Natividade, no canto direito da foto.


ALBINO FRIAÇA, O FILHO ILUSTRE.

Na foto acima, Albino Friaça, notório jogador de futebol da década de 1940, chega para o seu casamento em Porciúncula - cidade onde nasceu - em um vagão de passageiros da Estrada de Ferro Leopoldina, em janeiro de 1950 - Friaça esta de chapéu, na quarta janela do vagão, com uma caneta na mão provavelmente dando um autógrafo.
Friaça já estava convocado para a Copa do Mundo. Destacou-se por ser autor do único gol brasileiro na final da Copa do Mundo de 1950, em que o Uruguai derrotou o Brasil por 2 a 1 em pleno Maracanã. Também integrou o chamado "Expresso da Vitória", considerado pela maioria o maior esquadrão de futebol da história do Club de Regatas Vasco da Gama e um dos maiores da história do Brasil, que jogou entre 1942 e 1952. Este elenco do Vasco da Gama. O esquadrão vascaíno foi também o primeiro time brasileiro a ganhar um título internacional fora do Brasil, o Torneio dos Campeões Sul-Americanos de 1948. Ao todo, foram onze títulos em dez anos, sendo desses cinco Cariocas, dois vencidos de forma invicta.
Na foto abaixo, já casado de partida para a capital.

Fonte: Acervo Gerzio Calzolari, doado ao Arquivo Publico Municipal de Porciúncula - Adriana Amélia Pinto Coutinho.



A PRESERVAÇÃO DE UM PATRIMÔNIO E DE SUA HISTÓRIA.
Os anos que se passaram. A estação passou a ser ponto de bares e sede de partido político. A população se movimentava para que ela fosse demolida para dar lugar a uma praça central. Quando o prefeito Antônio Jogaib assumiu a administração municipal em 1989, foi procurado pelo ex-funcionário da estrada de ferro, Olavo Pinto de Abreu, que não se conformava com a destruição do belo prédio tão representativo da história da cidade. Seu Olavo propôs ao prefeito a compra da estação ferroviária.
As negociações começaram e a prefeitura conseguiu concretizar a compra, em agosto de 1989, por 38 milhões de cruzeiros, divididos em três parcelas. Em 12/09/89, foi assinada a Lei n° 1.022/89, que desapropriou o imóvel para instalação de serviços públicos como biblioteca municipal, museu e outros interesses da municipalidade. O prédio passou por reformas sob a coordenação da arquiteta porciunculense Cristine Gonçalves de Souza.
No dia 11 de janeiro de 1991, o antigo prédio da estação, totalmente reformado, foi destinado à cultura e às artes e reinaugurado como Centro Cultural Dr. Edésio Barbosa da Silva, abrigando a Biblioteca Eloy Vieira Lannes e o Espaço Cultural Conceição Fernandes Schuwart. Uma equipe de profissionais, liderada pela Coordenadora do Centro Cultural, a professora e jornalista Adriana Amélia Pinto Coutinho, foi empossada para resgatar, organizar, incentivar e dinamizar as manifestações culturais do município.
No mesmo ano, em 26/09/1991, a coordenadora Adriana Amélia, desenvolveu e implantou a Secretaria Municipal de Cultura, através da Lei n° 1.113/91, uma das primeiras secretarias municipais da região noroeste, exclusivamente voltada para o desenvolvimento cultural do município. Uma iniciativa revolucionária na região noroeste fluminense, tornando-se a primeira Secretária Municipal de Cultura de Porciúncula.
Felizmente, a bela construção encontrou uma nova serventia, sendo transformada no Centro Cultural Dr. Edésio Barbosa da Silva, em 11 de janeiro de 1991. A velha estação abriga atualmente a Secretaria de Cultura, que movimenta a cultura em toda sua abrangência: biblioteca, pesquisa escolar, memória histórica, resgate da cultura popular, cinema, teatro, arte, artesanato e divulgação jornalística. Elo entre o presente e o passado, a Secretaria de Cultura proporciona aos porciunculenses e visitantes o resgate cultural e histórico, bem como as tecnologias mais modernas de informação.
Hoje, o belo e histórico prédio da estação, resistindo ao tempo, continua servindo à cultura e à arte porciunculense tendo completado 125 anos de construção em 2018.
Testemunha da fundação e colonização do município, ponto turístico e equipamento cultural em atividade há 26 anos cumprindo sua função cultural.
Redação e pesquisa histórica:

Ivana de Paula Porto - Assessoria de Comunicação - SMC/PMP - 2018

Fontes de Consulta:
Nylson Macedo, As Ferrovias do Norte Fluminense, Parte VI – A estrada de Ferro do Carangola – Engenheiro da RFFSA (extraído da Folha da Manhã de 07/10/80 , Campos /RJ).
A origem do nome de “Porciúncula” e a história das estradas de ferro em nosso município (Jornal Porciúncula Notícias de julho de 1992 - Ano 3, n° 12) escrito por José Antonio Abreu de Oliveira – Coordenador do Projeto Memória de Porciúncula
Subsídios para a história de Porciúncula, Dr. Edésio Barbosa da Silva
Jornal Porciúncula 2000 – Edição n°25 – janeiro de 2000 (Estação Ferroviária – escrita por Rosimere Ferreira)
Jornal Estação Porciúncula – julho de 2011 (Patrimônio Arquitetônico, testemunha da história da sociedade – escrita por Ivana de Paula)
Acervo do Centro de Memória Adriana Amélia Pinto Coutinho – SMC
Acervo Gérzio Barreto Calzolari - SMC

Ivana de Paula Porto

Assessoria de Comunicação

As comemorações pelos 125 anos de história foram marcadas por grandes eventos culturais.









Mais algumas fotos de minha primeira visita a Porciúncula.



Fazendo parte das comemorações pelos 125 anos de história, homenagens aos ex-ferroviários.




Registros da passagem do último trem por Porciúncula.









Tempos românticos... registros para a história.





Comemorações do dia da Pátria tendo sempre a presença marcante da velha Estação Ferroviária.





3 comentários:

Anônimo disse...

Fantástica a história de Porciúncula! A erradicação das ferrovias no Brasil é um crime lesa pátria cometido por nossos governantes!
João Tardin.

Anônimo disse...

Li a reportagem e gostei imensamente. Certa vez minha irmã viajou de Recreio a Porciúncula e quando o Trem Expresso estava lá chegando, os habitantes de Porciúncula exclamaram: Olha lá o expresso mineiro chegando. Ela achou muito engraçado eles falarem assim.
Marco Antonio de Magalhães.

Anônimo disse...

Que bela história! Quanta riqueza cultural! Fotos espetaculares, tanto as atuais quanto às antigas! Nos fazem viajar realmente.
Estou encantada! Parabéns!
Adriana Lopes.