Acima e na sequência abaixo, a grande Estação de Muqui, construída para escoar sacas de café que
eram abundantes na região. Hoje ela serve como Rodoviária e Centro Cultural. Registros de Paulo Neiva Pinheiro feitos em dezembro de 2021.
Na época desta foto, Muqui era apenas um distrito de Cachoeiro de
Itapemirim, desmembrado depois em 22 de outubro de 1912.
Vista da cidade e da Estação Ferroviária de Muqui em 1980.
Antiga panorâmica da cidade, vendo-se o centro e a Estação Ferroviária de Muqui.
Estação MUQUI
santa-rita
Município: Muqui-ES
Linha Do Litoral - Km 439,407 (1960)
Altitude: 239 m
Estação inaugurada em: 01 de janeiro de 1902
Estive no local em: Ainda não visitei a Estação. Fotos dos amigos Paulo Neiva Pinheiro e Da Silva Junior.
Uso atual: Estação Rodoviária e Centro Cultural.
Situação Atual – Tráfego suspenso, com trilhos.
E. F. Leopoldina ( 1902 -1975)
RFFSA (1975-1996)
FCA (1996 - ...)
HISTÓRICO DA LINHA:
Conforme cita o site estacoesferroviarias, de Ralph Mennucci Giesbrecht... “O que mais tarde foi chamada "Linha do Litoral" foi construída por diversas companhias, em épocas diferentes, empresas que acabaram sendo incorporadas pela Leopoldina até a primeira década do século XX. O primeiro trecho, Niterói-Rio Bonito, foi entregue entre 1874 e 1880 pela Cia. Ferro-Carril Niteroiense, constituída em 1871, e depois absorvida pela Cia. E. F. Macaé a Campos. Em 1887, a Leopoldina comprou o trecho. A Macaé-Campos, por sua vez, havia construído e entregue o trecho de Macaé a Campos entre 1874 e 1875. O trecho seguinte, Campos-Cachoeiro do Itapemirim, foi construído pela E. F. Carangola em 1877 e 1878; em 1890 essa empresa foi comprada pela E. F. Barão de Araruama, que no mesmo ano foi vendida à Leopoldina. O trecho até Vitória foi construído em parte pela E. F. Sul do Espírito Santo e vendido à Leopoldina em 1907. Em 1907, a Leopoldina construiu uma ponte sobre o rio Paraíba em Campos, unindo os dois trechos ao norte e ao sul do rio. No início dos anos 80 deixaram de circular os trens de passageiros que uniam Niterói e Rio de Janeiro a Vitória. A partir de 1996 a linha funcionou para cargueiros por mais alguns anos sendo operada pela FCA. ”
A ESTAÇÃO:
Contando mais uma vez com as sempre importantes contribuições de Paulo Neiva Pinheiro e de Da Silva Junior , chegamos à Estação Muqui.
Paulo Neiva Pinheiro esteve na Estação de Muqui em 2021 trazendo seu relato...
“Nos anos
1940 a Estação passou a se chamar Muqui do Sul, mas hoje a cidade e a Estação
se chamam novamente apenas Muqui. Estive
na Estação de Muqui num dia chuvoso em
dezembro de 2021 encontrando o belo e grande prédio em boas condições servindo
como Rodoviária, funcionando nela também um Centro Cultural e um espaço de Artesanato.
Estava em bom estado de conservação e de funcionamento. A Cidade de Muqui é um
verdadeiro sítio histórico do período do café, tendo centenas de imóveis desse
período tombados pelo Patrimônio Histórico, tombamento feito pela Secretaria
Estadual de Cultura (Secult). Ao todo, 186 imóveis são tombados, entre
casarões, sobrados e palacetes. Vale muito a pena uma visita para conferir com
calma os detalhes das fachadas dos casarões, em sua maioria do início dos anos
20.”
Da Silva Junior esteve na Estação de Muqui em 2020 trazendo seu relato...
“O
crescimento da produção cafeeira interessou aos ingleses que vinham construindo
Estradas de Ferro pelo sudeste. O esquema era que ao abrir uma estrada,
estimulava as derrubadas, quando os proprietários vendiam madeira para os
dormentes, e lenha para as máquinas a vapor. Com esse recurso os proprietários
investiam na produção cafeeira e usavam a Estrada de Ferro pagando frete para
descer com a produção de café para exportação principalmente pelo porto do Rio de Janeiro, onde
existiam grandes comerciantes compradores de café. E assim ficava viabilizada a
estrada.”
Abaixo, belíssimo e riquíssimo texto de Sandra
M C Lourenço publicado na página “Estações
Ferroviárias”, de Ralph Mennucci Giesbrecht, onde ela escreveu sobre a Estação de Muqui em história detalhada.
Todo o trecho abaixo em itálico é de Sandra:
"Sabe-se
que Peçanha Póvoa, inspetor escolar, visitava os lugarejos e foi incumbido pela
população do Vale do Rio Muquy, juntamente com Julião Barreto de Faria e alguns
fazendeiros de comunicar a Direção da Ferrovia quando voltasse ao Rio de
Janeiro para que se houvesse interesse em estender os trilhos vale adentro,
pois a economia local, baseada nas férteis colheitas de café de então,
garantiria lucros certeiros, levando-os a recuperar sem arrependimento o
investimento antecipado.
Após
estudos o governador decidiu enviar os trilhos que começaram a despontar em
Muqui em 1901. A Estação de Mimoso do Sul ficou pronta alguns anos antes.
Sabe-se que o terreno na região é muito acidentado, o que tardava o andamento
das obras.
A
Leopoldina Railway comprou no centro do antigo Arraial dos Lagartos (Muquy) a
posse n° 72, uma área de 9955 m2, terrenos de João Vieira da Fraga; Francisco
Fortunato Ribeiro; Quintiliano F. de Azevedeo e Francisco Gonçalves Ottero,
sendo que de 1909 a 1915 pagaram taxas de aforamento à Igreja no valor de Rs
647:075$000.
A Estação
e o trecho da linha até Muquy, a terceira parada entre Rio e Vitória, foram
entregues em 1902, depois de a Leopoldina ter novamente abraçado essas linhas
em março de 1901, após um litígio de posse que demorou cerca de dois anos,
apenas relacionado a esse trecho.
O carregamento
normal de uma Locomotiva "Pacific" era de 6 vagões, mas depois que
estabeleceram o uso das "Beyer-Garratts" passou para 10 vagões. A Locomotiva
movia-se nos acidentados 25 km entre Cachoeiro e Soturno à velocidade de
30km/h. Duas das Locomotivas articuladas "Beyer-Garratt" construídas
para a Estrada de Ferro Leopoldina foram desenhadas com cabines-leito para
cobrir o trajeto de 400 km entre Campos e Vitória.
Havia
quatro tipos de trens: O “Misto”, que trazia vários vagões para carga e um
carro para passageiros na traseira, muito lento; o “Expresso”, com três carros
para passageiros na traseira; o “Noturno”, de madeira envernizada, que só tinha
vagões para passageiros dividido em duas classes, na primeira os bancos eram
estofados e na segunda, de madeira, com cabines-dormitório só entre Rio e
Campos e depois até Cachoeiro de Itapemirim. Todos três tinham uma cobertura de
lona nos vagões de passageiros, como um forro térmico e impermeável.
Era uma
festa receber o Trem que adentrava a cidade apitando solenemente, os moços
passavam para lá, as moças para cá, pelas calçadas da Estação, acenando
efusivamente para receber os passageiros vindos da elegante capital Rio de
Janeiro. Era uma hora das mais esperadas pela população.
Por fim,
chegou o moderno “Cacique” que era um Trem de ferro, azul, com uma faixa
branca, com os banheiros modernos e limpos, que veio para substituir o
“Noturno”, mas que com o tempo foram deteriorando, até que com as frequentes
greves do setor ferroviário, as viações de ônibus vieram a substituir este meio
de transporte que atravessou a cidade por décadas.
Existiram
no passado, e ainda hoje são mantidos conservados em alguns Museus, vagões
adaptados para transportar defuntos, os chamados carros-fúnebres ou
vagões-mortuários. Em cada cabine viajavam os familiares confortavelmente ao
lado de uma prancha chamada “essa”, onde ia afixado o caixão, depois de
conseguirem autorização até 4 acompanhantes. A cabine servia-se inclusive de
banheiro. Curiosamente, na cidade grande os bondes-mortuários vieram para
imitar os trens adaptados. Existiam também os carros-médicos.
Em 1926
havia divulgação da tabela de preços para os carros fúnebres no jornal “O
Muquyense” e era cobrado por km. 1a. classe – qualquer distância: Rs 2$500; 2a.
classe – qualquer distância: Rs 1$500 (Mínimo 20km).
De acordo
com Roberta Palma, a Locomotiva anterior ao Cacique, a conhecida “Maria-Fumaça”
alimentada a carvão, foi adquirida inicialmente pela família Donato, distrito
de Conceição da Barra – ES, para ajudar no escoamento das toras de madeiras
oriundas da Vila de Itaúnas, num tempo em que a necessidade de extração da
madeira era uma grande fonte de renda e portanto passando por todos os vales do
ES. Reformada no ano de 2007 em São Paulo, retornou a Conceição da Barra no dia
12 de janeiro 2008 para voltar a funcionar como Trem Turístico Ambiental.
Edson
Quintaes conta que quando ele viajava na Maria-Fumaça, muitas vezes tinha a
roupa furada por pedaços de brasas que saiam da chaminé da locomotiva. A roupa
não chegava a pegar fogo, mas fazia uns buraquinhos....Nas vezes seguintes, ele
não deixava mais a janela aberta... para não ter a calça com pequenos furos
feitos pelas minúsculas brasas que saíam da chaminé da locomotiva e entravam
pelas ditas janelas...Costumava-se usar um avental por sobre a vestimenta, de
nome “guarda-pó” para evitar maiores estragos aos tecidos.
Coisas da
nossa saudosa "Maria-Fumaça"... hoje sinceramente sentimos saudades
daquelas viagens... ele levava seu acordeon para tocar em Aimorés, Governador
Valadares (ES)... as refeições feitas nas janelas, o Trem balançando e aquela
fumaça vez por outra entrando pelas janelas... aquele feijão com arroz, fritas
e ovos... a garrafa de refrigerante balançava, balançava... mas não caía...
sempre em pé... ! ! ! e vez por outra o apito da Locomotiva...quanta saudade
daqueles momentos! Edson conta que trabalhou na Vale de novembro de 1961 a
novembro de 1997. Exatamente 36 anos.
Na vila
de Muqui haviam vários armazéns que eram parada obrigatória dos Trens que
descarregavam e carregavam mercadorias pelas suas portas traseiras ou mesmo
dianteiras, alinhadas aos trilhos da Leopoldina Railway. Algumas não eram
somente paradas obrigatórias em razão de carga e descarga, mas também por
estarem próximos ao entroncamento da linha férrea que se subdividia em três
ramais: um direto, um maior e um menor, a fim de fluir o tráfego das Locomotivas
enquanto alguns vagões eram carregados ou descarregados em função de o
movimentado comércio da cidade. A área ocupada por estes ramais diminuiu com o
avanço das ruas. Hoje passam pela cidade apenas Trens de carga intermunicipais
em apenas um ramal.
A Estação
em 23 de novembro de 1913 passou à direção de José Carneiro, a família
fixando-se em Muqui. Antes a direção pertencia a Severino Pinto que ao deixar
seu posto foi para Juiz de Fora. Muitos imigrantes e profissionais e mesmo
engenheiros e técnicos estrangeiros que trabalharam na ferrovia deslocaram-se
para Mimoso e Muqui e outras cidades à beira dos trilhos, onde acabaram se
estabelecendo com suas famílias, como é o caso de Felippe Pereira de Castro,
avô de Ketty Cirillo, enterrado em Muqui; José Martins, avô de Tereza Brito e o
dinamarquês Johannes Andreas Nicolai Von Martens, bisavô do marido da neta de
Ketty Cirillo, que por coincidência também trabalhou como engenheiro na
ferrovia terminando por fixar moradia no Brasil para sempre, assim como tantos
outros que desconhecemos.
Lá atrás,
nos anos 1940, a Estação passou a se chamar Muqui do Sul. Hoje a cidade e a Estação
chamam-se apenas Muqui . A Estação virou Centro Cultural, onde a partir de 2006
passaram a funcionar Cursos à Distância e um Posto de Agro-negócios. A Estação
mantém na parte interior um pequeno, mas interessantíssimo Museu com peças
antigas da ferrovia, como baterias, sinos, selos, documentos, etc. Vale a pena
visitar."
Além da Rodoviária, a antiga Estação abriga também o Centro Cultural da cidade.
Na sequência abaixo, mais alguns registros da Estação de Muqui feitos por Paulo Neiva Pinheiro em dezembro de 2021.
Na sequência abaixo, mais alguns registros da Estação de Muqui feitos por Da Silva Junior em setembro de 2020.
A Linha do Litoral corta a cidade.
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