segunda-feira, 12 de outubro de 2020

FERROVIÁRIOS BIQUENSES CONSTROEM E MONTAM PORTÕES PARA OS GRANDES TÚNEIS DA FERROVIA DO AÇO. Conheça mais um belo trabalho realizado nas Oficinas de Bicas.


Matéria atualizada em 18 de outubro de 2020.





Logo após a inauguração da FERROVIA DO AÇO, ainda pela RFFSA, em 1989 surgiu um sério problema envolvendo três de seus grandes túneis: o Tunel dos Cabritos; o Túnel 70 em Jeceaba e o Túnel 11 em Rodeio - Paulo de Frontin, que logo nas primeiras passagens das composições de minério tracionadas por um grupo de Locomotivas Diesel, identificou-se o grave problema do "APAGÃO" das Locomotivas no meio dos túneis.

Além destes três grandes túneis, a Ferrovia do Aço ainda tem o Tunelão, considerado o maior túnel do Brasil com 8.645 metros de extensão que, apesar de seu cumprimento, não sofria o problema do apagão das Locomotivas por ser uma grande rampa onde as composições carregadas de minério sempre trafegam por ele descendo - detalhe muito bem observado pelo amigo Felipe Sanches.

Voltando aos demais túneis, percebeu-se que seria necessária uma solução que aumentasse a ventilação no interior dos mesmos, problema que explicaremos mais abaixo.

Surgiu então o projeto vindo do Canadá para a construção de portões que seriam instalados na entrada e saída dos túneis. Um grande portão de madeira em estrutura de aço com largura e altura suficientes para fechar completamente as entradas e as saídas. Eram grandes placas de madeira que se encaixavam numa guarnição de chapas de aço.

E quem construiria e instalaria estes portões?

Os ferroviários de Bicas.

Deu-se início à fabricação das partes e peças nas oficinas de Bicas e assim que os trabalhos eram concluídos todo o material era levado para o local onde se encontravam os túneis, onde a equipe de ferroviários biquenses juntava-se a outros ferroviários, engenheiros e técnicos para a montagem do mesmos, túnel por túnel.

Logo após as fotos abaixo, o relato de Sebastião Gomes, ferroviário biquense que compôs a equipe de construtores e montadores dos portões.

 


Relato do ferroviário biquense Sebastião Gomes sobre a fabricação dos Portões para os grandes Túneis da Ferrovia do Aço.


"Tudo aconteceu antes das privatizações ferroviárias. Nossas oficinas receberam engenheiros vindos da Ferrovia do Aço – RFFSA trazendo do Canadá um projeto para a fabricação de grandes portões, que seriam usados nas entradas e saídas de três túneis de grande extensão: o Tunel dos Cabritos; o Túnel 70 em Jeceaba e o Túnel 11 em Rodeio - Paulo de Frontin. O objetivo era resolver o problema do grande acúmulo de fumaça das máquinas no interior dos túneis, provocando o “apagão” e a natural parada das mesmas.

Os engenheiros nos disseram que era a primeira vez que acontecia este tipo de problema no Brasil, já que os primeiros túneis de grande extensão foram estes construídos na Ferrovia do Aço.

Com o projeto em mãos, fizemos o primeiro portão, que foi implantado com sucesso no túnel de Bom Jardim.

Em seguida, construímos portões para os outros dois grandes túneis da Ferrovia do Aço.

O projeto previa a construção de dois grandes portões dotados de contra-peso a serem instalados na entrada e saída de cada túnel. Logo na instalação dos portões do primeiro túnel percebemos o primeiro problema surgido com o contra-peso que balançava muito e de forma perigosa, nos obrigando a desenvolver e construir uma torre-guia para estes contra-pesos, resolvendo o problema do balanço dos mesmos.

Começamos pelo Túnel dos Cabritos, depois o Túnel 70 em Jeceaba e por fim o Túnel 11 em Rodeio – Paulo de Frontin.

Trabalharam nesta empreitada eu (Sebastião Gomes) e os ferroviários Paulo Carvalho, Pedrinho Lanini, João Diniz, Zenoni e o "Cupim", compondo equipes responsáveis pela medição, pela fabricação da parte estrutural e pela parte de carpintaria.

Por um bom tempo ficamos também responsáveis pela manutenção destes portões, tendo que se deslocar até os túneis para a realização dos devidos reparos."

Sebastião lembrou o caso de Jeceaba, que possuía uma estação perto do túnel onde ficava uma Locomotiva escoteira:

"Para vencer a grande rampa dentro do túnel, o trem tinha quatro potentes locomotivas à frente da composição, que recebia o “reforço” da Locomotiva Escoteira empurrando a composição em sua cauda. Vencida a grande rampa e a transposição do túnel, a Locomotiva Escoteira era desengatada e retornava para a estação de Jeceaba. Quando o trem retornava em descida, não era necessária a adoção da escoteira.”



COMO FUNCIONA O SISTEMA:

No momento em que o trem transportando minério entra no outro extremo do túnel, o portão de saída se encontra fechado. Dessa forma, à medida que o trem avança dentro do túnel, o ar empurrado pela composição é impedido de escapar pela saída do túnel, uma vez que ela está bloqueada pelo portão. Assim, o ar ainda fresco é obrigado então a recuar e a passar pelas locomotivas, removendo os gases que saem dos motores diesel levando-os para trás, rumo à abertura de entrada do túnel. Dessa forma garante-se um fluxo de ar e fresco para a equipagem e locomotivas, garantindo-se que as mesmas funcionem naturalmente e não apresentem problemas.

Na saída do túnel um empregado fica atento, abrindo o portão assim que as locomotivas estiverem próximas da saída. A abertura do portão ocorre por meio de contra-pesos que facilitando seu acionamento.

Em caso de falhas no sistema não há maiores problemas, uma vez que o portão é construído de madeira e é relativamente frágil, podendo ser quebrado com facilidade pelas locomotivas se, por algum motivo, ele não for levantado.

Logo que toda a composição deixa o túnel, o portão continua aberto por um tempo pré-determinado permitindo a renovação da atmosfera no interior do mesmo.








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