Certa vez, uma de nossas postagens com histórias dos Trens da E. F. Leopoldina em Bicas aqui na página otremexpresso desencadeou um belíssimo diálogo em
um daqueles grupos do facebook que resgatam memórias de nossas cidades. Vale à
pena conferir!
Aldanir Silva:
"Uma história
inesquecível para mim foi uma viagem de Rochedo de Minas para Bicas nos trens
da Leopoldina.
Pelos idos
de 1953 peguei o “Misto” - trem de carga
cujo ultimo vagão transportava passageiros - bem cedinho em Bicas para ir ao
enterro de meu padrinho em Rochedo. Ao retornar para Bicas, embarquei às 22h em
outro Misto. A composição seguiu até o posto telegráfico de Telhas, onde se
abasteceu de água e iniciou a subida da serra. Mas a locomotiva começou a “rodar
em falso” – patinar - sem conseguir
avançar. O trem teve que retornar a Telhas, tomar pressão e seguir em nova
tentativa sem sucesso, retornando novamente. Isso algumas outras vezes. Até que
decidiram fazer um corte na composição dividindo-a em duas partes, seguindo
finalmente para Bicas. A locomotiva retornou de ré a Telhas e buscou o resto da
composição. Chegamos a Bicas uns minutos antes das 07h, quando os fieis desciam
a Rua dos Operários para a missa.
Nove horas de
uma inesquecível viagem de 65 anos atrás!
Meu pai,
Geraldo Alves da Silva, foi foguista e maquinista da E. F. Leopoldina. Aposentado creio que em 1972, faleceu em 1976."
Reconstituição do Trem descendo a serra de
Bicas em fotografia realizada no local do antigo Posto Telegráfico de Telhas. Composição fotográfica de
Amarildo Mayrink.
Aldanir
Silva:
"Um trecho lindo da viagem de Bicas para o Rio
que guardo na memória era a descida da serra de Petrópolis. Embarcava no
Expresso 22 em Bicas, às 14h, ou no Noturno à meia noite.
O trem seguia até Alto da Serra, pouco depois
de Petrópolis, quando a composição era desmembrada “dois a dois vagões". O Expresso
transportava latões de leite coletados ao longo da Zona da Mata, além de outras
mercadorias como galinhas em engradados. Descia conduzido por pequenas Locomotivas
dotadas de engrenagens, cujos dentes se encaixavam na cremalheira. Fazia uma
parada na estação Meio da Serra e seguia até a Raiz da Serra, na baixada
fluminense, quando trocavam novamente a Locomotiva, a composição se recompunha
e chegávamos ao Rio em torno de 21h.
Era belíssimo esse trecho da descida/subida
da serra de Petrópolis passando por dentro da mata e avistando as luzes da
cidade do Rio de Janeiro lá embaixo."
Alto da Serra de Petrópolis pelas linhas da E.
F. Leopoldina.
Nelson Souza Ramos Filho:
"Belas
histórias, Aldanir! Você lembra quando chegava o trem pagador em Bicas? A
cidade virava festa em frente ao botequim do Zé de Brito."
Aldanir
Silva:
"Isso mesmo era uma festa! Lembro-me que meu
pai recebia o pagamento em rolinhos de papel - como um pacote de drops/balas -
contendo as moedas. Normalmente eram três pacotinhos. Não me recordo de receber
cédulas."
Aldanir Silva:
"Os
maquinistas tinham que fazer um relatório chamado “Parte Diária”, onde
constavam os horários de chegada e partida de cada estação e os motivos de
eventuais atrasos. Eu fazia os de meu pai e de uns outros poucos maquinistas. O
Sr. Liberino, que morava no final de nossa rua fazia diversas e foi ele que
ensinou-me. Lembro-me que o Sr. José Mayrink (seu avô, Amarildo) era Condutor!"
Alcione Melo:
"Há coisas que ficam para sempre em nossa
memória!
Quando na oficina "apitava
socorro", sinal de que havia acidente com algum trem, meu coração
disparava, preocupada com o que poderia ter acontecido com meu pai ou outra
pessoa nossa amiga.
Quantas vezes meu Pai ia fazer manobra e eu ia
com ele na máquina...
E também me lembro quando íamos de trem para
assistir aos jogos de futebol.
Há um tempo, eu, Aldanir e Maria de Lurdes
pegamos um trem aqui em Vitória e fomos até Aimorés.
Que saudade tive dos
tempos de Bicas!"
Marly
Dousseau Mayrink:
"É verdade, Alcione! Lembro-me de
que, muitas vezes, às vezes no meio da noite, meu pai saía para esses
socorros... E eu ficava de olhinhos bem arregalados porque sabia que a coisa
não era boa..."
Aldanir Silva:
"Certamente são belas histórias para contar.
Mas contarei uma triste. Lá pelos idos de 50, quando meu pai (Geraldo) ainda
era foguista, em uma viagem de Bicas para o Alto da Serra (Petrópolis), entre
Alberto Torres e Areal - RJ, o trem se chocou na passagem de nível com um
caminhão que transportava tambores de gasolina (naquele tempo não existiam os
caminhões-tanque) que explodiram e voavam. O motorista pedia ajuda e ele e o
maquinista nada puderam fazer, pois os tambores de fogo caiam ao lado da
locomotiva e existia o receio de algum tambor cair no tender (ele era
descoberto e dava para dentro da cabine) e o fogo atingi-los. Felizmente se
salvaram o mesmo não acontecendo com o motorista."
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