Em minhas viagens
em visita às Estações da Linha do Centro
- que ia de Porto Novo a Ligação, em Ubá – visitei e retornei a praticamente
todas as Estações.
Entre as Estações
visitadas falaremos hoje da Estação Diamante,
localizada em comunidade de mesmo nome, situada no Município de Ubá.
Mais uma Estação com importantes e belas histórias. Vamos a elas!
A ESTAÇÃO:
Inaugurada em 1879, trata-se de
mais um belo prédio ferroviário. Em 2024 ainda vemos os trilhos pelas ruas de
Diamante, bem como por grande parte do percurso da ferrovia que ladeia a
estrada de Diamante a Sobral Pinto, apesar de bastante coberto pela vegetação.
Mas já em 2020 pude observar que próximo à Estação existia um trecho do antigo
leito em terra e sem trilhos, aparentando obra de calçamento para abertura de
rua.
Diamante é uma pequena, pacata e
aprazível comunidade pertencente a Ubá e sua Estação está de pé, tendo vivido
sensações distintas em minhas três visitas: em 2012 a encontrei
bela, muito bem conservada e sendo usada em eventos sociais da
comunidade.
Mas, em minha segunda visita
em setembro de 2020, encontrei a Estação fechada e sem acesso aos moradores,
sem uso, apresentando aspecto de abandono, um belíssimo e histórico prédio
necessitando de atenção.
Para minha grande e agradável
surpresa, retornei a Diamante em setembro de 2024 encontrando a Estação
totalmente restaurada e bela, faltando apenas completarem os trabalhos de
urbanização de seu entorno.
Além das fotos que fiz em 2012,
2020 e 2024, em setembro de 2023 recebi mais um registro espetacular dos
amigos do IPHAN - foto em que realizei o trabalho de
restauração - mostrando passageiros aguardando na plataforma da
Estação e uma composição estacionada na linha ao lado.
Enfim... cada vez que visito lugares
como Diamante, viajo na imaginação de ver o Trem chegando e partindo, o grande
movimento na Estação e todo o romantismo da cena, visão realizada nesta
belíssima foto do IPHAN.
Mas a Estação de Diamante guarda
uma belíssima história, que vale a pena conferir mais abaixo, aqui na matéria.
Na sequência abaixo, fotos de 2020, quando já víamos a importância de se buscar uma solução para uma transferência definitiva de propriedade de antigos prédios ferroviários ou parcerias com os municípios realmente dispostos a preservá-los. Este foi o caso da antiga Estação de Diamante, que necessitava de atenção. Hoje vemos o quanto é importante a preservação destes Patrimônios Históricos.
Abaixo, a Estação de Diamante em mais um belo registro fotográfico do acervo de Hugo Caramuru.
A ORIGEM DO NOME DIAMANTE:
Para
ilustrar a importância histórica da Estação de Diamante, trago belíssimo e
interessante relato de Eduardo Contin
Gomes, postado como comentário na matéria sobre a estação de Ubá em 10 de
setembro de 2015:
“Sou de Ubá, nascido na Fazenda do Glória e com mãe
nascida em Diamante de Ubá. Já viu, não é?
Em 1881 Dom Pedro II inaugurou o ramal da EFL que
passava por lá e teve um determinado trecho (Ubá-Diamante) que meu trisavô, um
grande fazendeiro e oficial da Guarda Nacional de nome Antônio Gomes Pereira e
Silva prestou a guarda de honra de Dom Pedro II.
Naquele tempo, todo o local se chamava Pântano e o
trem com a comitiva imperial fez uma pequena parada na estação, cabendo ao meu
trisavô servir o café ao Imperador no trem. Dom Pedro II, que tudo anotava e
observava, enquanto tomava o café percebeu que o lugar era bonito e que o nome Pântano
estava em desacordo, sugerindo que o lugar era um DIAMANTE de tão bonito e
verdejante. Daí para frente o povoado passou a chamar Diamante, hoje Diamante
de Ubá (distrito).
Em junho de 1881 meu trisavô recebeu do Imperador a
Comenda da Rosa pelos relevantes serviços prestados, que a partir de então passou
a ser conhecido e tratado como "Comendador".
As xícaras de café foram guardadas "sem
lavar", mas infelizmente não temos mais notícias delas. Este relato está
no diário do Imperador Dom Pedro II e hoje no acervo da Biblioteca Nacional.
O Comendador naqueles tempos era praticamente o
dono da maioria das terras em torno do Diamante e no caminho sentido a Ubá, o
trem passava pelas terras de uma fazenda conhecida como "Fazenda do
Glória", de propriedade do filho mais velho do Comendador, de nome Ten.
Cel. Antônio Gomes Pereira Filho (meu bisavô). Nesta Fazenda, nasceu meu avô,
meu pai e também eu.
No final da década de 1950 e anos 1960 o trem
passava por nossas terras. Eu ouvia o barulho da máquina a vapor com o seu
inesquecível repetitivo "café-com-pão-manteiga-não". Eu e mais alguns
irmãos, às vezes, corríamos na estrada de terra, subíamos um pequeno morro e do
alto dava para ver o trem passar lá embaixo na várzea. Posteriormente, ouvíamos
o som das novas máquinas a Diesel.
Entre a estação do Diamante e Ubá e bem próximo, um
pouco antes da estação da Ligação, tinha uma plataforma coberta – uma pequena parada do trem - conhecida
como "Parada Moreira" por situar-se nas terras do grande fazendeiro
Laurindo Moreira. Essa Parada Moreira já foi destruída, infelizmente.
Aquele prédio que você fotografou na estação de
Ligação - um moinho desativado - pertenceu
ao meu trisavô (o Comendador) e o interessante é que desde pequeno, hoje estou
com 65 anos, lembro daquele prédio meio destruído em sua parte superior. Para
mim, eu falo que ele foi bombardeado, um pensamento meu de criança para
justificar aquele estrago antigo. O certo é que aquele prédio nunca foi
reconstruído e deveria ser tombado pelo Patrimônio Histórico de Ubá. Afinal é
centenário e semi-destruído como sempre. Um caso a ser pensado e considerado
pela comunidade local. É ou não é?
Bom, o Comendador foi homem ilustre e do bem, pelo
que conheço da sua história era influente em Ubá, sendo "Agente
Executivo" da cidade em duas ocasiões (1892 e 1895-1986). Agente Executivo
corresponde hoje ao cargo de Prefeito Municipal. Hoje existe uma Rua em Ubá que
o homenageia com o nome de "Comendador Antônio Gomes".
É isto meu amigo, um pouco da história dos caminhos
do trem por Minas Gerais. Um pena o descaso hoje existente com os trechos
desativados e que outrora foram fomento para o crescimento de Minas e
desenvolvimento de sua gente. Eu também sou saudosista.
Um grande abraço e muitos parabéns,
Eduardo Contin Gomes”
Próximo à Estação existia em 2020 um trecho do antigo leito, em terra e sem os trilhos, aparentemente retirados para obras de calçamento e abertura de rua.
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