Após publicá-lo aqui, Nem Cunha manifestou seu desejo de doar o mapa original para o Museu Ferroviário aqui de Bicas, preservando-o para a história.
sexta-feira, 31 de janeiro de 2014
SÉRIE DOCUMENTOS HISTÓRICOS - Uma preciosidade: Mapa completo das linhas da LEOPOLDINA RAILWAY.
Após publicá-lo aqui, Nem Cunha manifestou seu desejo de doar o mapa original para o Museu Ferroviário aqui de Bicas, preservando-o para a história.
sábado, 11 de janeiro de 2014
ESTAÇÃO SANTANA DE CATAGUAZES - Estação Terminal de mais um ramal da Estrada de Ferro Leopoldina.
Matéria
atualizada em 04 de abril de 2023.
Acima, a belíssima Estação em minha última visita à cidade, em março de 2023. Em destaque o belo dístico "Santana de Cataguazes", ainda escrito com "z".
Abaixo, uma composição fotográfica que realizei para relembrar os bons tempos da ferrovia.
Abaixo, mais alguns belos registros que realizei em março de 2023, que comprovam a importância de se valorizar o Patrimônio Histórico.
Matéria
atualizada em 04 de abril de 2023.
A foto abaixo, de Gilmar Oliveira Costa, realizada em 2021 mostra a belíssima Estação logo após a realização de ampla reforma.
Pintura do artista santanense Jerus da Fonseca Santos, apresentada por Ernane Machado Milane.
Quadro de horários dos trens publicado em jornal da época da ferrovia em Santana de Cataguases.
Estação SANTANA DE CATAGUAZES
Ramal: Santana de Cataguazes – Km 369,984 (1960)
Altitude – 229m
Estive na Estação em: janeiro de 2014 e em março de 2023.
Estação inaugurada em: 14 de abril
de 1895. Uso Atual: Prédio totalmente restaurado abriga o Centro Cultural Municipal.
Situação Atual: Ramal erradicado. Sem trilhos.
E. F. Cataguazes (1895-1903)
E. F. Leopoldina (1903-1967)
Estive na Estação em: janeiro de 2014 e em março de 2023.
E. F. Cataguazes (1895-1903)
E. F. Leopoldina (1903-1967)
HISTÓRICO:
Da
Estação de Sereno, no Ramal de Miraí, partia outro Ramal para Santana de Cataguases, que permaneceu
em atividade até o ano de 1965, quando foi definitivamente erradicado.
A cidade de Santana de Cataguases - denominada anteriormente como João Pinheiro - recebe o visitante com sua antiga Estação Ferroviária logo na entrada da cidade, na praça João Remígio Resende Filho.
Minha
primeira visita a Santana de Cataguases aconteceu em janeiro de 2014, quando
encontrei a antiga Estação em reformas, como pode ser visto nas fotos.
Após
receber a boa notícia da reforma da Estação e o belíssimo registro fotográfico
de Gil Costa que despertou o meu
desejo em retornar à cidade, eis que em março de 2023 recebo o gratificante
convite de Humberto Mathias - Diretor do Patrimônio Histórico e Cultural
do Município, para retornar a Santana de Cataguases e conhecer de perto o
belo trabalho que vem sendo realizado. E lá fui eu para mais uma bela e agradável viagem pelos caminhos da Estrada
de Ferro Leopoldina.
MINHA
PRIMEIRA VISITA:
Em
minha primeira visita encontrei a antiga Estação em reformas, com as telhas da
cobertura da antiga plataforma agrupadas no chão. Segundo me informaram no
local, houve a necessidade de trocar o madeiramento do telhado por medidas de
segurança. Nela vinha funcionando um escritório da EMATER antes de iniciarem a
reforma. Após uma seção de fotos, busquei mais informações sobre ela em um
posto de saúde localizado bem em frente.
Mais
uma vez a sorte estava do meu lado! Fui super bem recebido pela agente de saúde
Sra. Eduvirges Milane, que ficou
feliz com o objetivo da minha visita. Veio então mais uma bela surpresa quando
ela pediu que aguardasse e ligou para seu filho Ernane Machado Milane e depois me disse: “olha, meu filho
tem uma bela pintura de um artista local que retrata a chegada do trem aqui na
estação, tenho certeza que irá gostar!”.
Com
as coordenadas de Dna. Eduvirges segui para o centro da pequena, mas agradável
cidade e facilmente encontrei a casa de Ernane, que já me aguardava com mais
informações sobre a passagem do trem na cidade. Apresentou-me a página da
cidade - “Memória Santanense” - no facebook com um belíssimo e
histórico acervo onde encontramos mais registros fotográficos da ferrovia na
cidade, destacando duas delas mostrando que a Câmara Municipal de Santana de
Cataguases já funcionou na antiga Estação.
Em
seguida, trouxe duas belíssimas telas, obras do artista local Jerus da
Fonseca Santos, uma retratando a praça principal da cidade destacando a
Igreja Matriz e a segunda, aquela que Dna. Eduvirges havia me indicado, a
chegada do trem na Estação de Santana de Cataguases.
O
GRATIFICANTE RETORNO À CIDADE:
E
veio então o gratificante convite para retornar à cidade e ver de perto o
belíssimo trabalho que a Diretoria de Patrimônio Histórico e Cultural vem
realizando.
Não
sei se é possível descrever minha alegria e a maravilhosa sensação de
realização em reencontrar uma antiga Estação Ferroviária totalmente restaurada
e bela, mas foi exatamente isso que senti!
Recebido
por Humberto Mathias, fui conhecer em detalhes o belíssimo prédio, que se tornou
um Centro Cultural Municipal e nele
funcionam a Biblioteca Municipal Jeny
Resende Duarte, que também possui suas primeiras peças históricas ferroviárias
em exposição; uma Sala para Jogos de Xadrez
que despertou minha atenção pela grande participação das crianças; e a terceira
sala, a Estação da Arte, que abriga belas obras de arte dos artesãos santanenses.
Parti
então para a sessão de fotos; registros que apresento com grande alegria a todos
os leitores de nossa página.
É a história da Estrada de Ferro Leopoldina sendo resgatada e muito
bem preservada!
LEMBRANÇAS DE ROBERTO FERREIRA DE
CASTRO, O SR. BETINHO:
Na
Secretaria Municipal de Educação conheci Madalena
Garcia Castro, que lembrou das histórias contadas por seu pai, Roberto Ferreira de Castro, o Sr. Betinho.
Fomos
então ao seu encontro na zona rural da cidade. E que encontro! Quantas informações
valiosas e belas histórias!
A
seguir, suas lembranças...
“O Trem misto – cargas e passageiros – partia de Santana. Quando chegava em Sereno o daqui parava esperando o Miraí, aí emendava um no outro. Os passageiros não desembarcavam em Sereno. Chegava em Sereno e assim que o Miraí chegava, emendava um no outro e ia embora.
Três dias ia o de Santana até
Cataguases, três dias ia o de Miraí. Ou seja, quando era o dia do Trem de
Santana ir até Cataguases, os vagões do Miraí engatavam no Trem de Santana.
Quando era dia do Trem de Miraí ira até Cataguases, eram os vagões de Santana
que engatavam no Trem de Miraí. Três dias a máquina do Miraí ficava em Sereno;
três dias ficava a e Santana.
Os Trens para Miraí e para
Santana de Cataguases só funcionavam de segunda a sábado. No domingo os ramais
não funcionavam.
Existia um Triângulo de Manobras, onde a máquina que ficava em Sereno virava para retornar ao seu destino na viagem da tarde.”
Uma
das coisas que marcou o Sr. Roberto na sua infância e juventude é que na
chegada do Trem, vinham muitos passageiros com suas bagagens e a molecada
aproveitava para ajudar a carregar as malas e ganhar uns trocados:
“Juntava mais de quinze meninos! Era os maleiros! Chegavam passageiros que moravam lá na “cidade alta”, a gente ganhava duzentos réis, quinhentos réis, um tostão pra levar a mala lá em cima. Vinha todo alegre, não tinha dinheiro, ué!”
Segundo
o Sr. Roberto, em Santana de Cataguases também tinha um Triângulo de Manobras para virar as Locomotivas:
“A máquina chegava de Sereno, desengatava
e ia de “fasto” até o “viradô” - o Triângulo – virava, pegava a linha direta, virava a chave e voltava de “fasto” pra
estação de Sereno, engatava nos vagões para fazer a viagem de volta.”
Segundo
oSr. Roberto, em Santana de Cataguases existia um pátio de manobras, onde os vagões
eram desengatados um a um, levados a um desvio que existia antes da chegada à
Estação, virava-se a chave e o vagão era levado até um segundo desvio que
existia depois da Estação. Assim eram perfilados de forma invertida para
seguirem de volta a Sereno:
“O pátio de manobras tinha duas linhas, uma pra chegar e outra pra fazer a manobra dos vagões.
Há vinte, trinta metros da
Estação tinha a Caixa d’água. Me lembro do maquinista Sr. Clorismundo.
Existia uma Casa do Chefe da
Estação, onde morou o agente da estação José Borba, onde depois funcionou um
posto de saúde.
Existia também o moço responsável
pela limpeza da Estação, o João Biá, que capinava em volta da Estação; passava
um “negócio” na chave pra ficar “alumiando” – a
lubrificação; enchia a caixa d’água; quando
chegava o vagão de tarde ele é que descarregava, enchia a Estação tudo de
mercadorias e carregava outras mercadorias para a viagem de volta. A parte de
lá da estação (sentido Sereno) era o armazém, costumava ficar sempre cheia de
sacas de arroz, feijão, milho e café. O João Biá enchia o vagão sozinho!
Na sala do meio onde ficava o estafeta José
Borba tinha a bilheteria.
Muitas vezes a gente chegava na
estação de Cataguases e o Trem estava atrasado “300 minutos”. Tinha que
esperar! Não tinha outra condução, só tinha ele! O Trem de Santana que estava
em Sereno tinha que esperar o Trem vindo de Cataguases. As vezes a gente ficava
até tarde esperando o Trem.
No trevo de Santana tinha uma
parada que chamava Paradinha.”
Outra
recordação:
“Eu casei em 1960, depois de
casados nós fomos tirar retrato em Cataguases. Nós fomos de Trem! Levamos as
roupas, vestimos as roupas, tiramos retrato, tiramos as roupas e voltamos. Trabalhei
sexta-feira o dia inteiro cortando cana pra casar no sábado. Domingo era
domingo, né! Segunda-feira acordei cedo e fui trabalhar de novo!”
O
Sr. Roberto não lembra de nenhum acidente no Ramal de Santana. Tratava-se de um
Ramal plano em quase toda a sua extensão.
“Tinha um velhinho que era surdo e gostava de andar na linha do trem, chamava "maco-maco". Ele não gostava que chamasse ele de maco-maco de jeito nenhum! Se chamasse, ele partia em cima de você. Eles não deixavam ele sair antes das sete horas. Um dia esqueceram dele e ele saiu, aí logo pra baixo de Santana o Trem matou ele. O Trem buzinou, apitou, apitou, mas não teve jeito.”
Segundo
o Sr. Roberto, nunca foi uma Locomotiva Diesel até Santana. “Foi Maria Fumaça até parar.”
"Aqui na fazenda da fumaça, no
tempo do Fernando Lobo, o irmão dele "muntou" numa mula, que derrubou ele e
arrebentou a bexiga dele. Ele “teve” na casa do papai muito tempo gritando. Aí
não tinha nem uma condução, chovendo o dia inteiro. Sabe o que fizeram? Vieram buscar
ele aqui em Santana de trole. Veio um trole, buscou ele aqui em Santana e levou
ele pra Cataguases! Trole empurrado - tracionado - na vara de madeira, tinha um prego na
ponta que batia nos dormentes e fazia ele correr na linha. Dois homens tocando o trole. Esse
trole era só para os trabalhadores.
E tinha um “bandeirinha” que
vinha a pé todo dia, saía de Sereno e vinha a Santana. Trazia uma bandeirinha
azul, voltava com um bandeirinha branca. Quer dizer que não tinha nada errado na
estrada! Que o agente podia despachar o Trem. Era assim todo o dia! Ele chegava na
estação, entregava a bandeirinha ao agente que lhe entregava a outra e ele
voltava para Sereno.
Aqui em Santana tinha um
guarda-freio chamado Eduardo “bomba”. Tudo que ele falava, falava “bomba”! Era
ele que “desemendava” o vagão da máquina pra poder virar.
O Trem tinha o maquinista, o
foguista, o guarda-freio e o condutor.
Histórias
que ficarão para sempre registradas em nossa página...
O Trem na Estação de João Pinheiro, futura Santana de Cataguazes.
A Praça da Matriz, vendo-se a Estação no centro, ao fundo. Foto de Gordinho KTA - Memória Santanense.
Foto de Vinícios de Souza Oliveiras - Memória Santanense.
Segue um breve
histórico de Gilmar de Oliviera Costa, de Santana de Cataguases:
"A estação de João Pinheiro foi inaugurada em 1895 pela E. F. Cataguazes. Ela era a estação terminal do Ramal de Cataguazes. O Guia Geral das Estradas de Ferro de 1960 dá como data de inauguração da estação o ano de 1903, o que pode ser, na verdade, apenas a data de incorporação pela Leopoldina, que adquiriu o ramal nesse ano. Nos anos 1940 passou a se chamar Santana de Cataguazes. Foi fechada com o ramal, em 10/04/1965. Para se ir com o trem para lá, em 1962, havia que se embarcar em Cataguazes às 17:25 e descer em Sereno às 17:52, onde se baldeava, às 18:20, para Santana de Cataguazes, onde se chegava às 18:55. Para voltar, o trem saía para Sereno, no percurso contrário, às 7:35 da manhã do dia seguinte. (Fontes: Guias Levi, 1932-1970; Guia Geral das Estradas de Ferro, 1960; Edmundo Siqueira, Resumo Histórico da The Leopoldina Rwy. Co. Ltd., 1938) HISTÓRICO DA LINHA: Os dois ramais, o de Miraí, que partia de Cataguazes, e de Santana de Cataguazes, que partia de Sereno, no primeiro ramal, foram abertos em 1895, pela E. F. Cataguazes, empresa que foi incorporada à Leopoldina em 26/03/1903. O ramal de Cataguazes foi suprimido em 10/04/1965 e o de Mirai, em 31/03/1967."